As impagáveis expressões olavianas
[...] jornal feito por e para meninos pó-de-arroz vem com algum novo escândalo antimilitar ou antiamericano. (referência ao jornal Folha de São Paulo)
[...] voltei do além e estou tentando conversar com indiozinhos recém-nascidos, ainda perdidos no seu acanhado ambiente terrestre, persuadidos de que a floresta é o cosmos.
In "O mistério da KGB mental brasileira". Leia mais um pedaço, e resista se conseguir.
Trinta anos atrás, nenhum intelectual, político ou líder empresarial brasileiro seria cretino o bastante para aceitar a mídia popular como sua principal fonte de informações. A base da nossa dieta de fatos eram os livros, as revistas especializadas, as investigações diretas em arquivos e documentos. Os jornais eram apenas artigo de consumo, material secundário de valor relativo ou duvidoso. Rádio só servia para a previsão do tempo. Televisão era para empregadinhas domésticas. No mínimo, havia sempre a diferença entre informação genuína e sua versão pasteurizada para o gosto do povão. Hoje, fico besta de ver a confiança total, a credulidade beócia com que homens letrados de primeiro escalão tomam os jornais e a TV como base de sua visão do mundo, chegando a pôr em dúvida qualquer dado de fonte primária que não tenha sido referendado pela Folha ou pelo Jornal Nacional.
Uma vez, discutindo com um militar de alta patente que, para cúmulo, tinha sido oficial de informações, lhe perguntei se tinha lido tais ou quais livros, básicos para o assunto que estávamos debatendo. Não, ele não lera nenhum. “Então de onde o senhor tira suas informações?”, perguntei. E ele, com a cara mais bisonha: “Eu leio jornal, uai.” Uai digo eu. Sou mesmo o remanescente de uma raça extinta. Não é à toa que o meu nome, de origem norueguesa, quer dizer “sobrevivente”. Com freqüência sinto que já morri, que minha alma atravessou os mundos, que voltei do além e estou tentando conversar com indiozinhos recém-nascidos, ainda perdidos no seu acanhado ambiente terrestre, persuadidos de que a floresta é o cosmos.
Quando você abre a seção de opiniões de um jornal, ou mesmo a parte cultural, não encontra nada ali que não seja a tradução, em idéias – ou arremedos de idéias --, do universo de fatos que consta das páginas noticiosas do mesmo jornal; e, quando lê as notícias, elas confirmam essas mesmas opiniões. Nas universidades, nas entrevistas de TV, nos debates do Parlamento, nada se ouve que não seja a ampliação, ou melhor, o inchaço vegetativo desse material. É tudo uma redundância perfeita, circular, fechada, repetitiva e e eternamente autofágica. Qualquer novidade autêntica, qualquer elemento de fora que ali se introduza é expelido por um batalhão de anticorpos que o devolvem às trevas da inexistência. Ninguém sabe de nada que os outros já não saibam. Ninguém diz nada que os outros já não tenham dito ou estejam ansiosos para dizer. Curiosamente, para quem vive dentro dessa atmosfera, a rarefação mesma do seu conteúdo é fonte de uma tremenda sensação de segurança. A ignorância geral confirma as ignorâncias individuais, que por sua vez a confirmam de volta, produzindo uma impressão de generalizada onissapiência. Daí esse fenômeno impressionante, tipicamente brasileiro, do qual não se encontra similar no mundo: o intelectual acadêmico radicalmente apedeuta, semi-analfabeto, ignorante até do idioma, que é consultado sobre mil e um assuntos, faz discípulos e se torna uma referência indispensável, um maître à penser, um guru.